Um grupo de crianças com menos de 6 anos, que frequentam uma creche de Sorocaba, se mobilizou para participar de um projeto de inclusão. O grupo e juntou lacres para ajudar um amiguinho a comprar sonda renal.
A iniciativa foi implantada na unidade escolar no ano passado e o fechamento da ação ocorreu em dezembro. Segundo Ana Flávia Hidalgo Moreno, coordenadora pedagógica da Associação Crianças de Belém (ACB), entidade responsável pela creche, a ideia surgiu da necessidade de trabalhar a inclusão na unidade.
“As crianças foram as nossas multiplicadoras, que conscientizaram seus pais e familiares. O resultado foi muito legal”, disse. A ideia era ajudar algum amiguinho que eles viessem a conhecer, já que na unidade, que atende 58 crianças, não há nenhuma com necessidades especiais.
Foi nesse momento que entrou o garoto Heitor Malinski de Andrade, de 9 anos. Ele foi escolhido para uma espécie de bate-papo com os assistidos da unidade. “O Heitor é uma alegria, um encantamento”, diz Ana, que é a responsável do projeto. “Nos surpreendeu. As crianças amaram o Heitor. Ele passou um dia com a gente. Foi muito bacana”, continua.
Heitor nasceu com problemas no sistema urinário. De acordo com Daiane Cristina Moreira Malinski, a mãe, ele tem a chamada bexiga neurogênica, que é a falta de controle da bexiga devido a um problema nervoso.
“Gostei bastante. É algo que está faltando em muitos lugares aqui, principalmente em escolas. Ficamos muito felizes”, diz sobre o trabalho de conscientização. “Eu achei muito legal”, comenta Heitor sobre a experiência na escola.
Ainda conforme a coordenadora da unidade, na data em que Heitor esteve na creche, em conversa com a mãe, eles souberam que ele usa cerca de cinco sondas renais por dia e tudo é comprado pela família. Com isso, surgiu a ideia da compra do material pelas crianças, após juntados e vendidos os lacres. As crianças tiveram uma roda de conversa e aprenderam sobre a importância da sonda para o Heitor.
MOBILIZOU - E a mobilização começou. Na casa da Raquel Alves de Amorim Lima, a corrente do bem foi puxada pela Lorena Amorim Lima, de apenas quatro anos. O engajamento foi tão grande que o pai dela, Erick Barbosa de Lima, fez campanha na empresa onde trabalha, para aumentar a arrecadação de lacres.
“Participar do projeto foi incrível. Ver a nossa filha tendo responsabilidade, amor ao próximo, foi muito gratificante”, afirma. Raquel.
“Como professora tive o privilégio de acompanhar as crianças. Todas estavam motivadas cada um do seu jeitinho. Como mãe, acompanhei o olhar do meu filho para o outro. Ele ia olhando pelo chão para achar os lacres. A maior alegria dele foi participar da compra das sondas e entregar para o amigo, que ficou muito feliz”, diz Priscila Bueno de Barros.
Na casa dela, o Miguel, de quatro anos, foi o grande mobilizador. “Tenho certeza que a creche ACB com esse projeto plantou uma sementinha do bem no coração dele”, diz.
Para os pequenos, juntar os lacres para a compra não foi o suficiente. Eles participaram ativamente também da aquisição das sondas pela internet. E tem mais: os pequenos compradores solidários fizeram questão de recepcionar o entregador. Era preciso garantir que a entrega fosse exatamente o que foi comprado.
“Fiz questão que eles participassem de todo o processo. Deixamos eles escolherem e comprarem. A hora mais emocionante foi a hora que o entregador chegou. A emoção deles foi incrível”, lembra Ana.
Pelo menos 40 crianças se engajaram na ação, cujo nome é Lacre Solidário. “Fiquei muito feliz. Gostei das sondas e das cartinhas”, diz o pequeno Heitor, citando também mensagens carinhosas que recebeu nos novos amiguinhos. O menino ganhou sondas que são suficientes para pelo menos 50 dias.
Heitor ainda tem muitos desafios. Um deles é andar. A diferença é que agora ele conta com uma legião de novos amigos para superar todas as barreiras.
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